sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Primeiro amor

Caminhávamos lado a lado nesta manhã. Riamos de tantas histórias, recordações do passado, das loucuras que fazíamos..que alegria invadiu minha alma!
Você me sorriu, pensei em dar-lhe um breve beijo, mas contive-me e também sorri.
Peguei em sua mão, sentindo-a tremer levemente.
Eu sabia o tempo todo!Só demorei a entender.
Eu te amei desde o primeiro dia. E sabia que você também.

Um adeus

Meu coração sangrava por dentro, angustiada, não sabia mais o que fazer.
Estava presa em um sonho ruim, ou a realidade tinha tornado-se tão sombria assim?
Seu telefonema aquela noite me tirou o sono, e desde então não consigo mais dormir..
É incrível o poder que tens sobre mim..o que fazer?É esta pergunta que mais assola minha mente...
Precisarei partir, você me entenderá, pois já há muito tempo me deixou para trás..
Nunca esquecerei seus olhos me fitando através da janela.

sábado, 22 de outubro de 2011

Ichibyou Kiss ¹

Os olhos dele vidrados na televisão acompanhando o filme que já haviam visto diversas vezes a desencorajou a dizer qualquer coisa, não entendia como haviam chegado a tal ponto. Sentou-se ao seu lado em silêncio, o sofá não era grande, mas a distância inconsciente dos corpos era inevitavelmente percebida. Pensamentos perdidos, adjetivos e substantivos que não encontravam um verbo em sua mente permitiam-lhe apenas encarar aquela figura ali tão próxima porém impossível de tocar.


Talvez por sentir-se vigiado ele olhou em sua direção, olhos severos que buscavam respostas. Um beijo rápido dela. Os olhos que ainda buscavam respostas agora demosntravam uma clara surpresa.

-Mou ii yo²!- disse ela encarando-o com firmeza – Por favor...

Ele sorriu como a tempos não fazia, quaisquer que teriam sido os motivos para estarem daquela forma seu coração a muito já esquecera. A resposta que seu lado consciente ordenou que usasse naquele momento morreu antes mesmo de chegar em sua garganta, sem que percebesse já a havia puxado para si.

¹ beijo rápido
² já chega

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Escolhas

O tempo estava passando lentamente aquela manhã. Quando atendeu o telefone, sabia que este dia seria diferente. Vestiu um moletom batido, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e saiu em direção ao parque.
Gostaria de caminhar um pouco, espairecer as ideias e colocar todos seus pensamentos no lugar antes do anoitecer. Pensou em como sua vida vinha sendo tão depressiva nestes últimos tempos.
Tentou recordar a última vez que se divertiu com seus amigos: mal conseguiu se lembrar de quando haviam se encontrado, quem dirá de quando havia se divertido!
Continuou sua caminhada, mas já sentia-se cansada..cansada de tudo, de sua vida, de suas andanças, de suas instabilidades emocionais e do modo como estava encarando sua separação.
Sentou-se em um dos banquinhos, próximo às árvores do parque, onde conseguia ver o lago, as crianças brincando com bola, alguns casais andando no pedalinho.
Ficou pensando em seu último ano, em seu casamento frustrado, em como sentia-se sozinha..não sabia o que era mais doloroso, ter descoberto a traição do marido ou aquela vida vazia que vivia antes disso.
Seus olhos encheram-se de lágrimas, a dor brotava em seus poros, como se todo seu corpo estivesse coberto destes sentimentos cinzas.
Nada ali lhe fazia sentido, mas agora não era mais hora de chorar, pensou ela.
Era o momento exato de ir a luta, de tentar sair deste buraco, antes que se afundasse definitivamente.
O telefone tocou novamente, ela precisava correr para casa, tomar um banho e arrumar-se para este compromisso tão importante.
Acabara de receber uma proposta de emprego, em outro país, para levar o novo produto de sua empresa à filial francesa. Ficaria por lá pelo menos durante 1 ano.
Era talvez a grande oportunidade de sua vida, o tempo ideal para as transformações de que há tanto tempo necessitava. Contudo, não estava segura de que era isso que queria.
Como iria viver tão longe, num país estranho, com uma língua que não lhe era familiar - falava inglês, mas isso não lhe garantiria nada na França - longe de sua casa, de seus filhos.
Pensou nas crianças por um tempo..como tinha sido uma péssima mãe!Já fazia duas semanas que não as buscava na casa da avó, não conseguia tempo para isso, sequer tinha ânimo, estava esgotada.
Qual seria a solução?Como resolver seu futuro, se tudo tão incerto e tão instável lhe assombrava a mente, como fantasmas do passado que teimam em ficar.
Seu coração palpitava, precisava de um tempo, precisava de algo que não conseguia enxergar, precisava abrir sua mente e seu coração para conseguir voltar a viver de verdade.
Chorou na mesa, em meio à reunião!O que lhe importava que lhe vissem tão frágil? O que lhe importava os julgamentos de quem não sabia o quanto sentia-se fracassada e confusa?
Pediu licença e foi ao banheiro, lavou o rosto, e enquanto olhava para o espelho, fitava sua imagem cansada, morna..
O que fazer? O que fazer?
Tentou pensar em uma solução..
Ligou para sua filha, Ane, que estava indo para a casa do pai. Ela já havia completado 13 anos, conseguiria entender suas angústias? Talvez pensasse que não as amasse, talvez entendesse o quanto isso era importante em sua vida.
Ane conversou com a mãe sobre a vida na casa da avó nestes últimos dias, contou o quanto estava empolgada em ir para a casa do pai, pois ele a levaria para a praia, junto com sua irmã mais nova Samanta.
Contou sobre a escola, sobre o novo paquera do 8º ano, sobre as amigas...
Precisava tomar uma atitude, viajar? Ficar? Tentar reconstruir sua vida, sair deste calabouço que construíra com suas próprias mágoas? Abandonar tudo e ter um tempo para si?
Chegou a uma conclusão: precisava viver!E a vida lhe era urgente e cara!
Saiu do banheiro e resolveu: A vida não pode mais esperar.

sábado, 15 de outubro de 2011

Flor

Na beira da estrada, encontrei uma pequena flor, nascendo tão singela, escondida entre o mato alto.
Olhei para o pequeno broto, pensando na grandiosidade da vida que ali estava escondida, latente.
Pensei por alguns segundos em como aquela flor era sortuda, talvez não fosse fácil manter-se viva em condições tão adversas...talvez já tiveram muitas flores, naquele mesmo local, morrido e dado espaço a outras, que também não tinham a mesma sorte desta pequena flor.
Senti um impulso de levá-la comigo, quem sabe colocá-la num vaso, replantá-la no jardim de minha casa.
Olhei em volta, e só existia aquela pequena flor..tão só, mas tão viva e bela.
Senti vergonha dos meus pensamentos, eu, tão solitária neste caminhar, encontrei algo que me deu uma alegria. Mesmo em um meio tão contrário, lá estava ela, pulsando por vida, buscando viver..
Saí de lá com lágrimas nos olhos e a certeza de que precisava me agarrar com todas as forças a este fio de vida que ainda pulsava em meu peito, para ser tão bela como a singela flor do caminho.

Lágrimas

O vento cortando meu rosto, enquanto as lágrimas corriam, pensava comigo: por onde ir?
parece que o tempo passou tão depressa e aquele sentimento já não me era mais suficiente..será que um dia te amei de verdade?foi apenas ilusão ou um sonho bom?não sabia mais o que pensar, o que fazer..
estou tão confusa com todas as ideias que se sobrepõe em minha mente, e o que sobra? talvez correr agora já não adianta mais, perdemos o passo, o compasso, as horas..nada mais será o suficiente.
caio em um abismo, dentro de mim, como se tudo o que tinha construído até então ruísse em minha mente.
nada mais será o suficiente.
Debaixo do chuveiro, pergunto-me o porque de tantos sonhos serem destruídos, sua ausência hoje me traz o consolo da solidão. Estar sozinha talvez seja o melhor a fazer. Será que um dia nossos caminhos ainda serão unidos por algum fio invisível?Será que um dia você reconhecerá meu rosto na multidão e permanecerá parado a me olhar?
O tempo parou neste instante, enquanto eu pensava, sentada no chão do banheiro. Vi em minha frente algo tão estranho, tão vazio e repleto de medo e angústias, que meu coração chorou, sangrou..
Senti minha alma doer, como se enfiassem em mim uma espada, que transpassasse meu ser..
Não faz mais sentido ficar aqui, agora o sol já se pôs e o melhor a fazer é dormir, dormir e entrar em um mundo onde o desespero calado dos olhos seja apenas uma vaga lembrança.
Sair daqui..é isso o que preciso..e acordar com o primeiro raio de sol invadindo meu coração, cobrindo meus pensamentos de uma luz que me transporte a outro Eu.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Uma história...


“Memórias de uma infância imaginada”
                                 Por: Erika Garcia

Quando ela sentou-se ao meu lado, não sabia direito o que lhe dizer ou como agir. Desde criança corríamos pelo quintal atrás de bolhas de sabão que davam ao céu um novo colorido.
Nos olhamos brevemente, sorrindo de canto, parecia que o tempo não havia passado. Senti o cheiro do pão fresquinho saído do forno que comíamos sentadas na soleira da porta, com a manteiga derretendo de tão quente que ele estava.
Todas as tardes nos escondíamos atrás da árvore do quintal da vovó, para podermos brincar até o por-do-sol. Recordo-me de minha avó gritando pela janela:
- “Sai daí guria! Já tá na hora do banho!”
Mas não queríamos ir embora! Tinhamos nossos segredos e mistérios e aquele quintal era nossa fortaleza. Lá podiamos ser as mais corajosas cavaleiras do reino. Podiamos ser fadas e bruxas. Na primavera éramos as princesas do reino Margarida, no outono corríamos pelo quintal à procura de folhas secas para prepararmos a comida de nossas “filhas”…fazíamos de conta que voávamos pelo espaço, que éramos apresentadoras de TV, que um dia seríamos presidente do Brasil.
Quando ficava muito tarde, corríamos pela calçada para pedir à mãe da Bia para que a deixasse dormir em casa. Fazíamos a cara de criança chorona mais amável do mundo e quase sempre a convencíamos com um: “Vai tia, eu cuido da Bia, faço ela escovar os dentes antes de dormir e prometo que não ficaremos acordadas até de madrugada!”
É claro que conseguiamos fazer com que ela deixasse a Bia dormir em casa! Nesta época, eu morava com minha avó e aos finais de semana ia para a casa dos meus pais. Durante a semana achava um tédio ficar sozinha e tratava de logo que saísse do colégio passar na Bia para buscá-la para brincar. Ela morava com a mãe, mas passava o dia com Toninha, uma moça novinha que cuidava dela enquanto dona Cássia, mãe da Bia, trabalhava.
O dia que conheci Bia foi o mais divertido da minha vida! Tínhamos 5 anos e era a primeira vez que passava férias na vovó. Estava na calçada, brincando de amarelinha, quando Bia passou com sua mãe. Ela aproximou-se de mim e disse:
- “Duvido que você consiga chegar naquela árvore antes de mim”
Achei-a tão petulante! Na época eu não sabia o significado desta palavra, mas sem dúvida se soubesse, teria lhe dito isso!
Corri em sua frente, mas quando fui encostar na árvore, escorreguei e cai de joelhos no chão. Foi o maior berreiro! Chorei mais do que bebê quando toma injeção. A Bia correu para me levantar, mas eu só sabia chorar! Ela sentou-me na calçada e soprava meu joelho tão docemente que parei com o berreiro para ver como ela me cuidaria. Bia desde os 5 anos já sabia como cuidar de minhas feridas!
Correu em seu quintal e veio com um copo de água para lavar meu machucado e um pedaço de papel higiênico para fazer o curativo. Parei de chorar, ela sorriu de canto e disse:
- “Não falei que chegaria na árvore primeiro?”
Demos risada e vovó chegou para ver o que eu estava fazendo com o rosto cheio de lágrimas e a perna enrolada no papel. Levantei-me devagar, abracei Bia e lhe disse: “Você gosta de brincar de casinha?” Ela nem respondeu, correu para sua casa mais uma vez, antes que eu pudesse pensar o porque de seu sumiço, ela voltou com duas bonecas de pano que sua mãe lhe fizera.
Pedi à vovó que nos fizesse um bolo de fubá, para comer com leite. Bia adorou a ideia! Era seu bolo favorito, e se tornou o “nosso bolo”. Dona Cássia pediu a vovó para olhar Bia enquanto fosse ao mercado e nós duas pulávamos no sofá de tão felizes! Começou aí uma amizade que duraria a vida toda!
Enquanto dávamos comida para nossas bonecas, vovó preparava nosso lanche. Pegamos uma caixa de sapato e montamos uma pequena casa, desenhada com canetinha as janelas e as portas. Entrei escondida no quarto da vovó e peguei seus colares e alguns batons, afinal agora éramos mães de duas meninas e precisavamos nos cuidar!
Bia passou o batom em mim, mas eu ria tanto que ela me riscou até o queixo! Trocamos de roupa uma com a outra, para fazer de conta que tinhamos nos arrumado para sair com as bebês. Estavamos radiantes, até que Bia não quis mais me emprestar sua boneca, pois dizia que ela chorava muito ficando em meu colo!
- “Imagina Bia! A Sofia me ama e eu sou a mãe dela!”
-“Não é não! Ela quer ficar no meu colo e você não sabe cuidar dela”
- “Sei sim”E ela me disse que odeia você!”
-“E eu também odeio você!”
Bia saiu correndo quarto a fora e eu não sabia o que fazer. Comecei a chorar e vovó correu no quarto, para ver o que estava acontecendo. Expliquei-lhe tudo aos prantos e ela abraçou-me carinhosa. Não era preciso falar nada, pois ela sabia como ninguém me acalmar.
Fomos ao encontro de Bia no quintal e vovó nos fez pedir desculpas e nos abraçarmos. Foi a primeira de nossas brigas, mas também a última.
Passaram anos deste este dia e já fazia alguns meses que não nos víamos, mas agora lá estava ela, sentada ao meu lado na sala do hospital, aguardando notícias da vovó. Éramos mais do que amigas, éramos irmãs e sentíamos a mesma dor neste momento. Relembramos das grandes aventuras da infância feliz que tivemos no quintal daquela enorme casa, que hoje já não era mais tão cheia de cores e sons. Nos abraçamos bem apertado, Bia secou minhas lágrimas com um beijo em cada lado e falou baixinho:
-“A vovó sempre estará conosco!”
Eu sabia que era verdade, então não havia mais nada a fazer, apenas silenciar o coração.

Texto escrito para o curso: Pedagogias das Infâncias - Outubro, 2011.