quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Escolhas

O tempo estava passando lentamente aquela manhã. Quando atendeu o telefone, sabia que este dia seria diferente. Vestiu um moletom batido, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e saiu em direção ao parque.
Gostaria de caminhar um pouco, espairecer as ideias e colocar todos seus pensamentos no lugar antes do anoitecer. Pensou em como sua vida vinha sendo tão depressiva nestes últimos tempos.
Tentou recordar a última vez que se divertiu com seus amigos: mal conseguiu se lembrar de quando haviam se encontrado, quem dirá de quando havia se divertido!
Continuou sua caminhada, mas já sentia-se cansada..cansada de tudo, de sua vida, de suas andanças, de suas instabilidades emocionais e do modo como estava encarando sua separação.
Sentou-se em um dos banquinhos, próximo às árvores do parque, onde conseguia ver o lago, as crianças brincando com bola, alguns casais andando no pedalinho.
Ficou pensando em seu último ano, em seu casamento frustrado, em como sentia-se sozinha..não sabia o que era mais doloroso, ter descoberto a traição do marido ou aquela vida vazia que vivia antes disso.
Seus olhos encheram-se de lágrimas, a dor brotava em seus poros, como se todo seu corpo estivesse coberto destes sentimentos cinzas.
Nada ali lhe fazia sentido, mas agora não era mais hora de chorar, pensou ela.
Era o momento exato de ir a luta, de tentar sair deste buraco, antes que se afundasse definitivamente.
O telefone tocou novamente, ela precisava correr para casa, tomar um banho e arrumar-se para este compromisso tão importante.
Acabara de receber uma proposta de emprego, em outro país, para levar o novo produto de sua empresa à filial francesa. Ficaria por lá pelo menos durante 1 ano.
Era talvez a grande oportunidade de sua vida, o tempo ideal para as transformações de que há tanto tempo necessitava. Contudo, não estava segura de que era isso que queria.
Como iria viver tão longe, num país estranho, com uma língua que não lhe era familiar - falava inglês, mas isso não lhe garantiria nada na França - longe de sua casa, de seus filhos.
Pensou nas crianças por um tempo..como tinha sido uma péssima mãe!Já fazia duas semanas que não as buscava na casa da avó, não conseguia tempo para isso, sequer tinha ânimo, estava esgotada.
Qual seria a solução?Como resolver seu futuro, se tudo tão incerto e tão instável lhe assombrava a mente, como fantasmas do passado que teimam em ficar.
Seu coração palpitava, precisava de um tempo, precisava de algo que não conseguia enxergar, precisava abrir sua mente e seu coração para conseguir voltar a viver de verdade.
Chorou na mesa, em meio à reunião!O que lhe importava que lhe vissem tão frágil? O que lhe importava os julgamentos de quem não sabia o quanto sentia-se fracassada e confusa?
Pediu licença e foi ao banheiro, lavou o rosto, e enquanto olhava para o espelho, fitava sua imagem cansada, morna..
O que fazer? O que fazer?
Tentou pensar em uma solução..
Ligou para sua filha, Ane, que estava indo para a casa do pai. Ela já havia completado 13 anos, conseguiria entender suas angústias? Talvez pensasse que não as amasse, talvez entendesse o quanto isso era importante em sua vida.
Ane conversou com a mãe sobre a vida na casa da avó nestes últimos dias, contou o quanto estava empolgada em ir para a casa do pai, pois ele a levaria para a praia, junto com sua irmã mais nova Samanta.
Contou sobre a escola, sobre o novo paquera do 8º ano, sobre as amigas...
Precisava tomar uma atitude, viajar? Ficar? Tentar reconstruir sua vida, sair deste calabouço que construíra com suas próprias mágoas? Abandonar tudo e ter um tempo para si?
Chegou a uma conclusão: precisava viver!E a vida lhe era urgente e cara!
Saiu do banheiro e resolveu: A vida não pode mais esperar.

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